“Pensei que tinha perdido meu filho”, relata pai de menino de 7 anos que caiu em bueiro em cidade da região

Foto: Vinicius Machado (Diário)

Uma brincadeira de criança acabou em um acidente na última segunda-feira (18), em Cruz Alta. Raphael Levi Santos Rocha, 7 anos, saiu de casa com o irmão e os amigos para tomar um banho de chuva. Durante o momento de diversão, ele caiu em um bueiro, próximo à casa em que mora. Raphael percorreu cerca de 200 metros de tubulação até conseguir sair por outro bueiro na mesma rua.

O pequeno foi socorrido pelos pais e encaminhado à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da cidade. Diante dos ferimentos, Raphael precisou levar 25 pontos internos e externos no rosto.

Depois do atendimento na UPA, a criança foi encaminhada ao Hospital São Vicente de Paulo para realização de uma tomografia. Ao chegar no local, porém, a equipe médica indicou que não era necessário o exame. Os pais receberam orientações sobre o período de recuperação de Raphael e a família voltou para casa na manhã da terça-feira (19).

Apesar do susto, agora, os pais agradecem a Deus pelo “milagre” que permitiu o filho continuar vivo junto à família.

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Como tudo aconteceu

Fazia pouco tempo que os pais haviam retornado do mercado para a casa. Por volta das 15h de segunda, estava chovendo em Cruz Alta e, como é de costume, Raphael e o irmão Renan pediram para brincar com os amigos da vizinhança na rua em frente à residência em que a família mora. Os pais permitiram, e as crianças saíram para tomar um banho de chuva.

Não demorou muito e a turma deparou com as ruas no entorno alagadas, pois a chuva estava ficando mais forte. Foi nesse momento que o acidente aconteceu, como relata Raphael:

– Eu estava brincando na chuva com meus amigos. Quando vi, a gente estava em meio à correnteza, meu chinelo foi levado pela água, e meu amigo disse para eu pegar. Fui lá, tinha barro e areia, escorreguei para dentro do bueiro, pois a chuva estava muito forte. Fiquei me batendo, consegui nadar um pouco para ir mais rápido e me salvar. Quando cheguei, tinham dois buracos, e subi em um. Quando eu saí, minha cara estava toda machucada – relata Raphael.

Bueiro em que Raphael caiuFoto: Vinicius Machado (Diário)

A criança caiu em um bueiro na esquina da Rua Germano Zenknner com a Rua Paraguai. Ele percorreu duas quadras, cerca de 200 metros dentro da tubulação, e acabou saindo em um outro bueiro na mesma via.

Isso tudo teve pouca duração, já que após 10 minutos da saída dos filhos, a mãe, Lais Fernandes, 28 anos, escutou um chamado na porta da residência. Era um dos meninos pedindo socorro porque Raphael tinha caído dentro do bueiro. Naquele momento, Lais e o marido, ​Paulo Renato Rocha da Silva, 44, saíram desesperados de casa à procura do filho.

– Quando cheguei, deparei com aquele bueiro vertendo água. Estou machucada porque coloquei meus braços dentro (do bueiro), a água já estava me levando também, mas na hora não conseguia pensar. Minha vizinha me puxou e disse que não tinha o que fazer. Foi um desespero, um sentimento que não esperamos e que não desejamos para ninguém. É muito ruim pensar que tu perdeu um filho – conta Lais.

A sensação também é compartilhada pelo pai de Raphael:

– Quando ouvi o coleguinha gritando o nome da Lais e dizendo que o Rapha tinha caído dentro do bueiro, foi um desespero total. Desci correndo a pé. Cheguei lá, olhei para aquilo (o bueiro) e pensei que tinha perdido meu filho, que não tinha como ele ter sobrevivido a isso. A água estava acima do meu joelho, com um redemoinho enorme na boca do bueiro. Os guris apontavam e diziam que ele estava ali dentro.

As crianças da vizinhança, que presenciaram o acidente, sabiam que quando a bola de futebol caía naquele bueiro costumava sair no final da rua. Por isso, avisaram os pais de Raphael. Quando Paulo Renato olhou para a direção que os meninos indicavam, conseguiu ver o filho saindo do bueiro. Por isso, entrou no carro, resgatou Raphael e Lais, e foram em direção à UPA.

– Meu esposo olhou aquele vulto saindo lá do último bueiro. Era o Raphael saindo com a camisetinha do Brasil que ele estava, todo ensanguentado. Meu marido entrou no carro e correu para pegar ele. No que eu entrei no carro, meu desespero foi ainda maior porque vi o rosto dele todo ensanguentado e aberto. Entrei na UPA gritando, desesperada, para salvarem meu filho. O Renato entrou com ele e começaram os procedimentos – comenta Lais.

A mãe, Lais Fernades, diz que precisou aumentar a dose da medicação para ansiedade diante do que aconteceu com o filhoFoto: Vinicius Machado (Diário)

Na UPA, a criança precisou levar 25 pontos internos e externos para costurar o rosto. Isso porque bateu a cabeça várias vezes durante o trajeto que percorreu dentro da tubulação.

– Até que estou conseguindo (enxergar), mas está um pouco ruim. Agora, não sinto dor, só quando encosta muito forte no meu machucado, daí dói demais. Lá no médico, levei 25 pontos e uma injeção no braço – diz Raphael.

O pai afirma que o menino foi forte e que se emocionou com a coragem do filho diante da situação:

— Ele não chorou mesmo, nem uma gota de lágrima, foi forte. Inclusive, quando encontrei ele na rua, bastante machucado, ele me dizia “pai, não te preocupa, eu estou bem”. Imaginem a minha emoção. Ele só chorou bastante para costurar (os pontos) porque foi difícil, ele estava muito machucado. Embora com anestesia, ele se batia muito, porque sentia puxar (a linha). Isso, para o Raphael, foi um terror. Então, ficamos mais de horas até costurar tudo. Foi muito agoniante, pois a Lais estava nervosa, do lado de fora da sala, e eu lá dentro com ele.

Bueiro que Raphael conseguiu sairFoto: Vinicius Machado (Diário)

Após passar pelo procedimento, Raphael chegou a ser encaminhado para o Hospital São Vicente de Paulo para fazer uma tomografia. Porém, os médicos do local avaliaram que não era necessário o exame. 

Os pais foram orientados a fazer perguntas simples para o filho sempre que ele acordar, ao longo dos dias, após o incidente. O tratamento também segue com repouso e mais cinco medicamentos para atenuar a dor, evitar a infecção nos pontos e garantir a cicatrização dos ferimentos.

– Acho que se tivessem manutenções necessárias (para evitar alagamentos), como deveria ter, não teria acontecido. Se fosse um bueiro fechado, como tem que ser, ele não teria caído. Foi um susto, uma sensação muito ruim. Não sei descrever o sentimento que tivemos naquela hora, de imaginar que perdemos ele. Mas, ele está vivo, agora, graças a Deus. Dizemos que ele foi um milagre para nós – fala a mãe.

A família

Os pais Lais e Paulo são naturais de Cruz Alta e estão juntos há 13 anos. Além de Raphael, o casal tem outros dois filhos, Renan, 10 anos, e João Miguel, 2. Paulo também tem outros dois filhos adolescentes de outra relação. Porém, apenas as três crianças e o casal vivem na casa no Bairro Santo Antônio.

Há dois anos, Lais e Paulo estão desempregados e sobrevivem de pequenos serviços. O núcleo familiar, avós e tios, também moram na cidade e ajudam o casal.

Antes do acidente, a rotina consistia, principalmente, em trabalho e cuidados com as crianças. Agora, o casal precisa se revezar para os afazeres diários, já que estão focados na recuperação de Raphael.

O pai, Paulo Renato Rocha da Silva, afirma que foi um momento difícil para a famíliaFoto: Vinicius Machado (Diário)

Os filhos mais velhos estudam na Escola Estadual de Ensino Fundamental Dr. Catarino Azambuja. O menino, inclusive, aguarda ansioso a visita dos colegas em sua casa, que está marcada para a sexta-feira (22). Segundo a mãe, o filho sempre foi estudioso e querido pelas professoras. Além de estudar, Raphael também gosta de jogar futebol e brincar com os amigos do bairro e da escola.

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